Odfjell é uma das mais renomadas vinícolas orgânicas do Chile. Deco Rossi, Embaixador da Odfjell, concedeu uma entrevista exclusiva para a DiVinho, falando das raízes norueguesas da vinícola, das práticas orgânicas e biodinâmicas e de linhas renomadas, como Armador e Orzada, confira:

Odfjell é uma família norueguesa que encontrou sua segunda casa no Chile, conte um pouco dessa história.

Odfjell é uma vinícola familiar fundada por Dan Odfjell, um armador norueguês descendente de vikings. A família tem uma tradição muito sólida na navegação, na parte de armadores e de portos.

A história é muito curiosa, pois existiu um período em que a Alemanha ocupou uma parte da Noruega. E uma coisa que Dan Odfjell dava para os filhos se alimentarem nessa época era mel. O que isso tem a ver com vinho? Aparentemente nada.

Dan Odfjell resolveu comprar uma fazenda no Chile e ter um apiário próprio para produzir mel, não de forma comercial, mas porque havia virado uma paixão. Isso já muito tempo depois, por volta de 1985.

Quando Dan estudou o que seria interessante plantar na região a resposta foi videiras. Decidiu então plantar uvas e fazer vinhos. Laurence Odfjell, que hoje é o CEO de todo o grupo Odfjell, é arquiteto e foi ele que projetou a vinícola, que ficou pronta em 1997.

Laurence, Dan e Dan Odfjell Jr
Laurence, Dan e Dan Odfjell Jr

A vinícola conta com certificação orgânica, como essas práticas são utilizadas nos vinhedos?

Quando Dan comprou a fazenda e decidiu começar a fazer vinhos, o objetivo foi produzir vinhos sustentáveis com uvas de extrema qualidade. Pois somente com uvas de extrema qualidade seria possível conseguir um vinho consistente ano após ano.

Desde o começo a vinícola se preocupou muito com a questão orgânica. É aplicado o mínimo possível de produtos químicos e se tem uma prática biodinâmica que ajuda a maximizar os princípios orgânicos.

Inclusive o uso de trator é evitado, pois é uma máquina que compacta o solo e produz fumaça tóxica. Isso na vinícola, e nos vinhedos principalmente, é levado muito a sério.

 

Odfjell também aplica princípios da agricultura biodinâmica, fale um pouco deles.

O enólogo francês Arnaud Hereu foi contratado no começo do projeto e permanece até hoje na vinícola. Arnaud encantou-se com o tema da biodinâmica e decidiu seguir por esse caminho.

Existe uma série de práticas biodinâmicas aplicadas, como a presença de animais nos vinhedos.  Odfjell estudou uma raça de cavalos que trabalhasse bem o vinhedo. A raça pura norueguesa fjord foi escolhida pelo peso e por sua passada.

Assim foram importadas da Noruega três éguas prenhas e que tiveram seus filhotes já no Chile. E isso faz parte da teoria biodinâmica, pois ela prega o equilíbrio entre homem, natureza e animais.

Cavalos Fjord
Cavalos Fjord

Os vinhedos estão localizados em três regiões vitivinícolas chilenas, no Vale do Maipo, Lontué e Maule. Como esses diferentes terroirs impactam na produção dos vinhos?

Isso é muito latente. Os principais vinhedos estão no Maipo, em Padre Hurtado, onde está localizada a vinícola e temos Cabernet Sauvignon, Carménère e Syrah principalmente. Em San Antônio temos Sauvignon Blanc.

Em Lontué, que fica a duas horas de Santiago, estão localizados os vinhedos de Malbec, que estão entre os mais antigos do Chile, com sessenta anos de idade.

O Vale do Maule é a joia da coroa, de onde saem os Carignans de vinhas centenárias, de videiras plantadas em vasos, no sistema gobelet, de produção baixíssima. O Orzada Carignan, por exemplo, tem a produção de apenas uma garrafa por planta.

No Maule temos um jardim de variedades, outras uvas em parcelas muito pequenas, como Tannat, Cinsault, Mourvèdre, Tempranillo e Petite Syrah.

São regiões com climas e terroirs muito diferentes. Os vinhedos no Vale do Maule de Carignan não são irrigados, pois é quente durante o dia e frio durante a noite. O Vale do Maipo é mais quente e seco, mas não tão seco quando o Maule, onde se tem certa influência da costa. E o vinhedo de Lontué é bem continental.

Vinhedos Padre Hurtado
Vinhedos Padre Hurtado

A adega que utiliza a gravidade foi a primeira a desse tipo a ser implantada na América do Sul, como funciona esse sistema?

Odfjell foi a primeira vinícola gravitacional da América Latina. A adega foi projetada por Laurence Odfjell e teve como foco o cuidado máximo com as uvas. Por isso, optou-se por não utilizar bombas.

São três pisos, no primeiro está a recepção de uvas, daí as frutas já caem nos tanques de fermentação e as barricas, quando o vinho passa por barrica, estão no subsolo.  Fazendo uso da gravidade, sem usar bombas, tem-se um tratamento muito mais delicado do vinho.

Adega
Adega

O vinho Odfjell é bastante especial, como é sua produção?

Esse é um vinho que não é feito todos os anos, a safra que está disponível hoje no mercado é a de 2012, que é 100% Cabernet Sauvignon. A produção é bastante reduzida, de apenas duas mil garrafas.

É escolhido um ano que seja bastante especial para uma determinada uva. É sempre um vinho varietal, já tivemos Odfjell Carménère, Malbec e Cabernet Sauvignon. Somente é produzido se em um ano específico alguma uva tenha sido realmente espetacular.

Armador é uma das linhas mais populares da vinícola, fale um pouco dela.

Armador é a linha de entrada da Odfjell, mas de ótima qualidade. A safra de 2017 dos tintos, que está disponível no Brasil hoje, é o primeiro ano em que os três rótulos, Syrah, Cabernet Sauvignon e Carménère, vieram sem madeira. Além do Sauvignon Blanc de San Antônio.

Orzada Carignan e Cabernet Sauvignon
Orzada Carignan e Cabernet Sauvignon

Orzada é uma linha de vinhos excepcionais da Odfjell, qual o seu segredo?

A linha Orzada é o coração da vinícola. Não é o vinho mais produzido, mas é o que carrega a bandeira da vinícola. Quem conhece Odfjell o primeiro vinho que vem na cabeça da é Orzada e mais precisamente, Orzada Carignan.

No Brasil estão disponíveis Cabernet Sauvignon, Malbec, Carménère e Carignan. O Cabernet Sauvignon é um Cabernet chileno sem a presença muito pesada de madeira. O Malbec lembra muito um Malbec europeu.

O Carménère é um Carménère completamente diferente, premium, mas sem barrica.  É um Carménère para quem não gosta de Carménère, um vinho que realmente surpreende.

Carignan é a grande menina dos olhos. O vinho que tem a produção mais limitada e vem de vinhedos centenários no Vale do Maule. Também não tem barrica e não precisa, pois a barrica encobre a acidez e o caráter frutado do vinho. É uma uva maravilhosa que não precisa de nada para mascará-la.

Existe uma nova geração de jovens que estão descobrindo os prazeres dos vinhos, como é atender esse público?

É um público exigente, mas que ao mesmo tempo está aberto a novas experiências. Um público que está querendo informação, que toma o vinho, mas que também quer conhecer a história desse vinho.

O vinho precisa desta narrativa, ele não é uma commodity. Toda garrafa de vinho tem uma história que merece ser contada. E isso faz toda a diferença quando você está compartilhando uma taça de vinho com os amigos e a família.

Sala das Barricas
Sala das Barricas

Quais rótulos Odfjell você recomenda para os brasileiros experimentarem?

O Armador Sauvignon Blanc é o único vinho branco que a vinícola produz, um Sauvignon Blanc típico chileno, mas que não enjoa. Armador Syrah também é ótimo, principalmente nessa nova fase sem madeira.

Capítulo é um blend de Cabernet Sauvignon, Malbec e Carignan que não existe outro igual no Chile. Pelo ineditismo do corte é um rótulo muito interessante.

Na linha Orzada recomendo todos, mas principalmente Orzada Carignan e Orzada Carménère.

Aliara é a joia da coroa, comercialmente falando. Um vinho que muda o corte todo ano. Vai ser sempre diferente, se as uvas não mudam a proporção muda. E é muito legal ver essa mudança todo ano.

 

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